Por: Renato Drummond Tapioca Neto
Em 1 de julho de 1961, nascia na Park House (uma casa adjacente ao Palácio de Sandringham), a terceira filha do então Visconde Althorp com sua esposa, Lady Frances Fermoy. Esperava-se que a criança fosse um menino, que herdaria no futuro todas as propriedades e títulos da família Spencer. Porém, a pequena Diana Frances estava destinada a uma missão muito mais importante do que se casar com algum membro da aristocracia e se tornar a senhora de uma mansão campestre. Batizada com o nome de uma divindade pagã, ela foi adorada em seu tempo de vida como um verdadeiro ícone. Foi uma árdua defensora das causas sociais e usou sua enorme posição e privilégios em prol daqueles menos favorecidos. Ironicamente, a criança que recebeu o nome da deusa da caça acabou se tornando a mulher mais caçada da Idade Moderna e teve sua vida prematuramente interrompida dois meses após completar seu aniversário de 36 anos. Se viva, a saudosa princesa Diana estaria completando 6 décadas de existência e, para comemorar essa data, seus dois filhos se reuniram no Palácio de Kensington, onde moravam com a mãe, para inaugurar uma estátua em sua memória.

Desde 2017, quando a morte da princesa completou 20 anos, que William e Harry conversavam com o escultor Ian Rank-Broadley sobre o projeto de uma estátua comemorativa para sua mãe.
O ano de 2021 começou em clima de tensão para a família real inglesa. Desde a bombástica entrevista do duque e da duquesa de Sussex à apresentadora Oprah Winfrey que os irmãos William e Harry se mantiveram relativamente afastados. Encontraram-se pouco depois apenas por ocasião do funeral do príncipe Philip. Morando nos Estados Unidos desde o ano passado, o príncipe Harry, que agora é pai de uma garotinha batizada com o nome de Lilibet Diana (em homenagem à rainha Elizabeth e à falecida princesa de Gales), resolveu colocar de lado suas divergências com William e retornou para a Inglaterra, com a intenção de prestar esse importante tributo à sua mãe. Instalado em Frogmore Cottage, onde se manteve em isolamento social por alguns dias, seguindo os protocolos de segurança, o duque de Sussex chegou ao Palácio de Kensington por volta das 13h40, onde se reuniu ao duque de Cambridge para a cerimônia de inauguração do monumento. Os dois filhos de Lady Di foram fotografados ombro a ombro enquanto admiravam o resultado da obra, depois de terem puxado o tecido que a cobria. Admiradores da saudosa princesa também deixaram várias flores e cartazes nos portões do Palácio, assim como fizeram no seu funeral.

Os dois filhos de Lady Di foram fotografados enquanto admiravam o resultado da obra, depois de terem puxado o tecido que a cobria.
Com efeito, a cerimônia de inauguração da estátua foi um evento privado, que incluiu apenas a presença de alguns fotógrafos e jornalistas, além de membros da família Spencer, como os irmãos de Lady Di: Charles, conde Spencer, Lady Sarah McCorquodale e Lady Jane Fellows. Desde 2017, quando a morte da princesa completou 20 anos, que William e Harry conversavam com o escultor Ian Rank-Broadley sobre o projeto de uma estátua comemorativa para sua mãe. No ano passado, eles disseram que, com essa atitude, pretendiam reconhecer seu “impacto positivo no Reino Unido e em todo o mundo”. Após a revelação da estátua, Rank-Broadley disse: “Eu pensava em primeiro lugar em fazer algo pelos príncipes, a princesa era uma figura muito pública e, em muitos aspectos, um ícone, mas era a mãe de alguém. Portanto, prestei maior atenção no que ambos os príncipes tinham a me dizer”. Sobre a participação de William e Harry no processo criativo, ele acrescentou: “em muitos aspectos, foi um esforço colaborativo, eles deram uma grande contribuição em vários sentidos e eu poderia dizer que a escultura também pertence a eles – eles ajudaram a fazê-la”.

Os irmãos de Lady Di também estavam presentes na cerimônia de inauguração da estátua.
O escultor trabalhou por cerca de quatro anos na estátua. Graduado pela Slade School of Fine Arts de Londres, o Sr. Ian Rank-Broadley possui uma carreira invejável, que já conta 35 anos. Ele é o artista por trás das efígies da rainha Elizabeth II cunhadas em moedas desde 1998 e já criou comissões públicas para o Armed Forces Memorial (AFM) e o National Memorial Arboretum. Sobre o processo de criação da estátua no seu estúdio em Gloucestershire, ele disse:
Infelizmente, nunca conheci a princesa, nunca me encontrei com ela, então dependia do que meus amigos e familiares diziam. Alguém lhe dá o tom, pode haver anedotas, reminiscências e pontos de vista específicos, então eles contribuíram dessa forma. Eles [os príncipes] descreveram sua mãe e, de muitas maneiras, houve momentos privados que foram relatados – certamente se tinha a sensação de que ela era extremamente divertida e (adorava) fazer piadas. Isso ajuda você a criar uma pessoa, então, quando estou sozinho no estúdio, apenas modelando a argila, tenho a sensação de que estou começando a conhecer alguém. E no final da comissão, eu realmente senti como se conhecesse uma Diana.
No pedestal da estátua, o escultor adicionou o nome da princesa com a data de inauguração da obra: 01 de julho de 2021. Numa placa colocada sobre uma pedra em frente ao monumento, pode-se ler um trecho inspirado no poema “The Measure of a Man”, que diz o seguinte:
Estas são as unidades para se medir o valor
Desta mulher livre de privilégios herdados
Não é sobre sua posição?
Mas tinha ela um coração?
Como ela desempenhou seu papel por Deus confiado?
Esse mesmo trecho, por sua vez, foi usado no programa cerimonial distribuído por ocasião do aniversário de 10 anos da morte de Lady Di, em 2007.

Admiradores da princesa deixaram flores e cartazes nos portões do Palácio de Kensington.
Todavia, em vez de representar Diana com seus dois filhos, que tinham 15 e 13 anos na época de sua morte, em 31 de agosto de 1997, o escultor resolveu cercá-la por três crianças, que simbolizam a universalidade de seu trabalho humanitário. Ao longo de sua vida, a princesa chegou a apoiar mais de 100 Instituições de caridade e abraçou campanhas estigmatizadas por outros setores sociais nos anos 1980-1990, como a luta contra a aids, a fome na África, moradores em situação de rua, as minas terrestres em Angola, hospitais para tratamento de crianças com câncer, abrigos para idosos, entre outros. Os três “filhos” na estátua da princesa possuem também características étnicas diversificadas, ressaltando assim a facilidade com que Diana tinha de se relacionar com diferentes povos e culturas, sem se importar com status social. O monumento foi inaugurado nos jardins aquáticos do Palácio de Kensington, que era um dos lugares favoritos da princesa de Gales. O arquiteto e paisagista Pip Morrison remodelou o local, para adequá-lo perfeitamente à nova estátua.
Após a inauguração do monumento, os príncipes William e Harry fizeram uma emocionante declaração conjunta, dizendo:
Hoje, no que seria o 60º aniversário de nossa mãe, nos lembramos de seu amor, força e caráter – qualidades que a tornaram uma força para o bem em todo o mundo, mudando inúmeras vidas para melhor. Todos os dias, gostaríamos que ela ainda estivesse conosco, e nossa esperança é que esta estátua seja vista para sempre como um símbolo de sua vida e seu legado. Obrigado a Ian Rank-Broadley, Pip Morrison e suas equipes por seu excelente trabalho, aos amigos e doadores que ajudaram a fazer isso acontecer e a todos aqueles ao redor do mundo que mantêm viva a memória de nossa mãe.
Quase 24 anos já se passaram desde Lady Di deixou o mundo, vítima de um trágico acidente em Paris. Porém, sua memória permaneceu viva entre as futuras gerações, que enxergaram nela um exemplo de ser humano a ser seguido. Nos anos recentes, ela tem aparecido em diversas produções dramáticas, livros e documentários, que ajudam a manter acesa a chama de seu amor e dedicação ao próximo.
Fonte:
The Mirror – Acesso em 01 de julho de 2021.