Princesa Isabel, a rebelde: conheça os planos da herdeira do trono brasileiro para indenização dos ex-escravos e mais!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

No século XIX, apenas nove mulheres ocuparam o posto de autoridade máxima nos seus respectivos países, seja como monarcas, ou regentes. Uma delas foi a princesa Isabel Christina Leopoldina Augusta Michaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Orleans e Bragança, herdeira do trono imperial do Brasil. Os historiadores dificilmente se ocupam da filha de D. Pedro II. Quando a mencionam, é por causa de dois eventos: em 1871, quando ela sancionou a lei do Ventre Livre, que assegurava a extinção paulatina do regime escravista no país, e em 1889, quando assinou a Lei Áurea, que abolia de vez a escravidão. Graças a este último feito, Isabel ganhou o epíteto de a redentora e se tornou um ícone da cultura popular. De acordo com Roderick J. Barman, biógrafo da princesa, “a vida de D. Isabel oferece esclarecimentos para a relação triangular, vigente para todas essas governantes do século XIX, entre o gênero (a existência como mulher), o poder (o exercício da função de agente) e o curso da vida” (2001, p. 17). Contudo, muitos pesquisadores e entusiastas da História entram em consenso ao afirmarem que o caráter, a religiosidade e os atos da princesa Isabel foram fatores que contribuíram para a substituição do regime monárquico pelo republicano, em 15 de novembro de 1889. Por outro lado, a correspondência trocada pela herdeira do trono nas três ocasiões em que governou o país na ausência do seu pai, entre 1871-1889, nos oferecem pistas para se entender um pouco mais da visão política dela.

“Fui informada por papai que me collocou a par da intenção e do envio dos fundos do seo Banco em forma de doação como indenização aos ex-escravos libertos em 13 de maio do anno passado, e o sigilo que o Snr. pidio ao prezidente do gabinete para não provocar maior reacção violenta dos escravocratas”. As palavras que se seguiram foram extraídas de uma carta encontrada no acervo de documentos do Memorial Visconde de Mauá, endereçada ao Visconde de Santa Victoria, datada de 11 de agosto de 1889. Nela, a herdeira do trono brasileiro defendia seu plano de indenização dos cativos recém-libertos do país, o que muito contribui para quebrar o pensamento de que a coroa não pretendia tomar qualquer atitude com essa finalidade. O maior empecilho, ressalta Isabel, eram os ex-proprietários de escravos, pois se eles soubessem desse plano “seria o fim do actual governo  e mesmo do Império e da caza de Bragança no Brazil”. Além desta medida, D. Isabel revelava na mesma correspondência outros planos, visto que “as mudanças que tenho em mente como o senhor já sabe, vão além da libertação dos captivos”. Nesse caso, a princesa se referia a uma causa que vinha ganhando sua atenção: o voto feminino. Ela afirmava que “quero agora dedicar-me a libertar as mulheres dos grilhões do captiveiro doméstico, e isto será possível através do Sufrágio Feminino. Si a mulher pode reinar também pode votar”.

Confira abaixo este documento, extraído na íntegra da revista Nossa História, nº 31:

Carta

Segundo Priscilla Leal, autora do artigo “O lado rebelde da princesa Isabel”, publicado na mesma edição da revista Nossa História, “a carta de Isabel ao visconde deve ser vista como um indício de que algo ainda precisa ser aprofundado nos estudos sobre a Abolição. Até porque, algumas questões presentes no documento carecem de esclarecimento”. Não é de hoje também que a figura da princesa necessita de uma revisão historiográfica que, por sua vez, rompa com esse estereótipo de que ela era uma mulher despreparada para o papel de governante e que seu caráter religioso não combinava com o exercício das funções de imperatriz reinante. Essa falácia tem sido repetida por muitos escritores que, involuntariamente ou não, continuam perpetuando a maléfica propaganda oitocentista, organizada pelas elites escravocratas do período que eram contrárias à sucessão do trono por uma mulher. Em Princesa Isabel do Brasil: gênero e poder no século XIX, Roderick J. Barman diz que “as culturas patriarcais em que as mulheres existiam tinham o efeito de lhes restringir e regular as esferas de ação e formas de expressão” (2001, p. 21). Em outras palavras, apesar de o século XIX ter produzido soberanas como Vitória do Reino Unido ou Maria II de Portugal, no Brasil ainda se via com certo preconceito o fato de mulheres exercerem funções que, para maioria, não lhes dizia respeito.

Nesse sentido, a carta escrita pela princesa Isabel em 11 de agosto de 1889, oferece-nos uma nova perspectiva para a construção da imagem da herdeira de D. Pedro II, que teria sido a terceira governante do Brasil Imperial. Todavia, é preciso ressaltar que a autenticidade do documento ainda não foi plenamente comprovada. Por outro lado, mesmo se falsa, a carta serve para ilustrar um pouco do pensamento político da época ligado à D. Isabel. Com o golpe republicano de 15 de novembro, os Bragança foram expulsos do país e tanto a princesa quanto seu pai morreram sem nunca mais regressar à terra onde tinham nascido. O material acima exposto foi analisado por Priscilla Leal, para a revista Nossa História, atual Revista de História da Biblioteca Nacional. A matéria “O lado rebelde da princesa Isabel”, contém 7 páginas que trazemos digitalizadas para você, caro leitor, assim como a matéria “Escândalo Imperial” (4 páginas), escrita por Mary Del Priore, também para esta edição da Nossa História. O texto de Del Priore aborda o caso extra-conjugal de D. Pedro I com a Marquesa de Santos, numa linguagem super fluida e gostosa. Aproveitem!

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3 comentários sobre “Princesa Isabel, a rebelde: conheça os planos da herdeira do trono brasileiro para indenização dos ex-escravos e mais!

  1. Se o Brasil tivesse continuado um Monarquia, nao teriamos hoje esta Roubalheira Institucionalizada que est,a ai!… Se por acaso vc fosse o Rei Do Brasil, iria querer Roubar de voce mesmo? E ainda temos que aturar um cara de nove dedos jurando de pes juntos “…Companheiro, eu nao sei de nada”! poide?! jamil

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