Em 14 de dezembro de 1861, falecia no castelo de Windsor, aos 42 anos, o príncipe consorte Albert de Saxe-Coburg-Gotha, com um diagnóstico apressado de febre tifoide (se é que sua autópsia oficial serve de referência). Porém, historiadores e especialistas médicos duvidaram desse relatório ainda na época em que o príncipe morreu, o que tornou a causa do seu óbito em um dos grandes mistérios da realeza britânica. Até o mês de janeiro de 1901, quando seu corpo se juntou ao do príncipe no Mausoléu em Frogmore, Vitória guardou luto pela memória do marido por mais de 40 anos. Durante todas essas décadas, a morte de Albert foi atribuída à febre tifoide. Mas, recentemente, alguns patologistas argumentaram que a verdadeira razão do óbito foi outra: Albert teria morrido aos 42 anos após uma doença de quatro semanas, contraída no inverno de 1861, apresentando vagos sintomas de insônia, dores nas pernas e nos braços, além de perda de apetite.

Litogravura representando a família real enlutada, ao redor do leito de morte do príncipe Albert.
Conforme aponta o Dr. Howard Markel, os detalhes divulgados ao público sobre a doença do príncipe foram “incompletos, vagos e imprecisos”, apesar de a família real acalentar o temor que ele provavelmente não sobrevivesse à enfermidade. No período anterior aos antibióticos e fluidos intravenosos, um surto de febre tifoide durava de 21 a 30 dias e terminava na morte ou, se o corpo do enfermo fosse forte o suficiente para combater a doença, em uma recuperação lenta e constante. Várias semanas antes da morte de Albert, ele confessou de maneira dolorosa sua falta de desejo em sobreviver, dizendo as seguintes palavras para a rainha Vitória: “Eu não me apego à vida. Você sim; mas eu não dou importância a isso. Se eu soubesse que as pessoas que amo são bem cuidadas, estaria pronto para morrer amanhã … Tenho certeza de que, se tivesse uma doença grave, desistiria imediatamente”. De acordo com a biógrafa da rainha, Julia Baird:
Os médicos vitorianos divergiram por muito tempo sobre as causas da morte do príncipe Albert. Muitos julgavam que ele morreu de febre tifoide fatídica à qual facilmente teria se exposto, devido à precariedade do sistema de esgoto de Windsor, ou talvez de uma perfuração intestinal. Desde então, outros têm aventado câncer de estômago, úlcera péptica ou gastrinoma. A teoria mais recente e plausível, proposta por Helen Rappaport, é que se tratava de doença de Crohn, uma doença inflamatória no trato gastrointestinal, exacerbada pelo estresse, cujos sintomas correspondem aos de Albert. (Essa síndrome só foi identificada pela comunidade médica em 1913). Os sinais de febre de Albert podiam corresponder a uma deterioração de uma inflamação gastrointestinal crônica, que explicaria seus problemas estomacais e dores de cabeça (BAIRD, 2018, p. 285).
“Eu não deveria lutar pela vida. Não tenho tenacidade para a vida”, revelou o príncipe consorte, em um de seus pensamentos mais fatalistas, expressados constantemente nos meses de 1861. O Dr. William Jenner, médico consultor de Albert e de Vitória, declarou que o príncipe estava sofrendo de febre tifoide e notou o surgimento de uma erupção rosa na sua pele, de acordo com as suas notas clínicas.

Fotografia do corpo do príncipe Albert, tirada em seu leito de morte.
Não obstante, a própria Vitória certa vez observou como Albert “tinha horror à febre”. Durante sua última semana de vida, uma série de relatórios contraditórios sobre a condição física do príncipe veio à tona, gerando queixas no British Medical Journal (BMJ) e um pedindo de inquérito formal sobre a causa da doença. Depois que ele morreu, o BMJ afirmou que a enfermidade do príncipe tinha sido motivada pelas condições insalubres da cidade de Londres: “a própria prole de esgotos imundos e habitações mal drenadas”, teriam sido a verdadeira razão da infecção que levou embora o marido da rainha. Conforme o Dr. Markel observa no seu artigo de 2017 para a PBS, a palavra “febre tifoide” não foi oficialmente usada até depois da morte de Albert, quando então foi listada como sua causa oficial de morte. Nos últimos anos, esse assunto tem gerado muitos debates entre médicos e patologistas.

Túmulo do príncipe Albert e da rainha Vitória no Mausoléu de Frogmore.
Com efeito, o Dr. Markel ressalta que Albert tinha uma “longa história médica de cólicas abdominais intermitentes, obstrução intestinal ocasional, anorexia, diarreia, fadiga e problemas reumáticos nas articulações”. Alguns até argumentaram que Albert teria falecido de um tipo de câncer abdominal, apontando para o fato de que isso também ocorreu com outros membros de sua família, como a mãe do príncipe, Louise de Saxe-Gotha-Altenburg, que morreu de câncer no estômago aos 30 anos, em 1831. Outros afirmaram que Albert pode ter sofrido de doença de Crohn (uma doença inflamatória séria do trato gastrointestinal, que afeta predominantemente a parte inferior do intestino delgado e do intestino grosso) ou então de uma colite ulcerosa, complicada por uma perfuração do intestino, seguida de sepse e morte. Em última análise, o mistério continua sem resolução. Com efeito, Albert entrou para a história como uma figura definidora da chamada era vitoriana e responsável pela Grande Exposição de Ciências de 1851.
Fontes:
EVANS, Tom. Royal mystery unravelled in huge row over Prince Albert’s autopsy. 2020. – Acesso em 28 de agosto de 2020.