Por: Renato Drummond Tapioca Neto
Em 1968, durante o período que ficou conhecido no Brasil como os Anos de Chumbo, marcado por perseguições políticas, tortura e censura da mídia, a rainha Elizabeth II, então com 42 anos de idade e 16 de reinado, juntamente com seu consorte Philip, Duque de Edimburgo, empreenderam uma viagem rumo ao continente sul americano como parte de um programa britânico de integração econômica com os países da América Latina. Tendo aportado em Recife, em novembro daquele ano, Sua Majestade e Sua Alteza ficaram aqui 11 dias, visitando outras capitais do país, tais como Salvador, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Por onde a rainha da Inglaterra passava, arrancava gritos de júbilo por parte da população eufórica, extasiados por verem uma monarca européia pisar em território nacional. Uma grande distração, para o período de terror propalado pela ditadura militar, vigente desde o ano de 1964.
Uma vez no Brasil, a rainha participou de inúmeros festejos e inaugurações. Em Salvador, visitou o Mercado Modelo, O Museu Paulista da USP em São Paulo, além de Inaugurar a Ponte Rio-Niterói, um dos maiores projetos faraônicos patrocinados pela Ditadura Militar. Devido ao fato de que nos dias em que a soberana esteve no país ainda se havia alguma liberdade de imprensa (antes que o Ato Institucional n° 5 fosse definitivamente implantado), possuímos um vasto acervo documental sobre sua visita, tanto em revistas, como em jornais da época. Abaixo, uma página da edição de 08 de Novembro de O Estado de São Paulo:
Uma vez na capital Paulista, Elizabeth II participou da Inauguração do MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand), que incluía uma obra pintada pelo ex-primeiro ministro britânico Winston Churchill, intitulada Sala azul de Trent Park. A monarca, por sua vez, elogiou a beleza e a simplicidade das linhas do edifício, fundado em 1947.
Elizabeth ainda visitou o Monumento ao Centenário da Independência, localizado no Bairro do Ipiranga, onde na época já se encontrava sepultada nossa saudosa Imperatriz Leopoldina, na cripta Imperial.
Alguns fatos bastante constrangedores marcaram a visita da soberana: conta-se que o presidente Costa e Silva, na festa de recepção dada em homenagem a Elizabeth II, teria se embolado ao pronunciar a saudação “God Save The Queen” (Deus Salve a Rainha), dizendo algo como “God… God… The Queen”. Outro fator bastante interessante foi um incidente com um cavalo puro sangue em Campinas, que ficou tão excitado na presença de Sua Majestade a ponto de precisar ser acalmado com Éter.
Já no Rio de Janeiro, a chegada da Rainha foi marcada pela inauguração da Ponte Rio-Niterói. Numa cerimônia que durou cerca de meia hora na tarde de 09 de Novembro, Sua Majestade e Sua Alteza descerraram uma placa comemorativa de bronze, localizada na Ponta do Cujo, dando assim início às obras para a construção da ponte. A polícia, por sua vez, marcou forte presença no evento. Abaixo, duas páginas do Jornal O Estado de São Paulo dando conta do acontecimento:
A presença da Rainha da Inglaterra em um evento como esse, por sua vez, foi usada pelos militares como uma forma de trazer maior prestígio para o evento, desmascarando assim a simbologia de imposição de poder que tal construção representava. O casal de monarcas ainda fizeram uma visita ao Estádio do Maracanã, onde viram Pelé e Gerson jogarem, conforme a imagem que segue:
A vista da Rainha pelo Brasil terminou oficialmente no dia 11 de Novembro de 1968. Logo depois, ela partiu rumo ao Chile, deixando, contudo, uma memória riquíssima acerca da presença da realeza britânica em território nacional. Infelizmente, sua passagem pelo país logo foi eclipsada na lembrança do povo brasileiro, uma vez que 32 dias depois o governo Costa e Silva decretou oficialmente o AI-5, dando assim início aos chamados anos de chumbo da Ditadura Militar, que se estenderiam até o final da década de 1970.
Fontes: Estadão, Hoje na História, História Mundi e O Globo
Só uma correção: ao citar a Rainha e o Duque, o correto é tratá-los separadamente “Sua Majestade e Sua Alteza” e não “Suas Majestades”, afinal o pronome não foi designado ao Príncipe Philip.
Uma outra curiosidade sobre a visita é que reza a lenda na festa oferecida pelo governador foram convidadas 2 mil pessoas e apareceram 6 mil. Tem mais informações sobre a visita no link abaixo e há vídeos no youtube tanto sobre a partida de futebol que ambos assistiram e quanto sobre a visita ao Rio.
http://flanelapaulistana.com/2011/05/o-dia-em-que-elizabeth-ii-esteve-em-santo-amaro-2/
Foi grata a minha surpresa ao ver esse artigo e em encontrar esse blog. As histórias de algumas consortes me fascinam e de algumas reinantes também.
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Olá Jéssica. Muito obrigado pelo seu interesse e pela sua intervenção. Quando quiser, sinta-se livre para manifestar a sua opinião e contribuir com mais informações nas postagens deste blog. Espero que volte sempre… Grande Abraço!
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Não há de que, Renato. No site da British Pathé, tem o vídeo da Rainha em Brasília durante essa visita de 1968.
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Vou adicioná-lo, então, à página de vídeos do blog. Obrigado pela dica 😀
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Parabéns pelo poste pela bela pesquisa de imagens!
Adorei!
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Corrigindo: “post”
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Obrigado Tatiana… Abraço 🙂
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Tenho uma crônica escrita por mim e publicada em meu livro sobre a visita da Rainha em Brasília e, anos mais tarde, em Montreal, no Canadá, durante os Jogos Olímpicos em 1976 naquela cidade.
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– Falas da Obra Faraônica, Ponte Rio-Niterói (Sabes da importância dessa obra pro Estado do Rio?), percebo que é por ser na “Ditadura Militar”; mas há muitas “Obras” Faraônicas não acabadas de outros períodos, que hoje sabemos porque. Mesmo assim agradeço pela sua publicação, me foi muito útil, abraço!
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Sensacional reportagem, parabéns. Uma pena que o seriado The Crown, não mostrou isto…:(
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