Por: Renato Drummond Tapioca Neto

A rainha Elizabeth II entrou para a história não apenas como a monarca mais longeva da história do Reino Unido (liderando o segundo reinado mais longo da Europa, atrás de Luís XIV da França), como também um dos rostos mais fotografados de todos os tempos. Neste ranking, a soberana divide o pódio com nomes como Marilyn Monroe, a princesa Diana e Britney Spears. Sua efígie foi cunhada em moedas, células e selos postais, a ponto de se tornar uma das faces mais facilmente reconhecidas de todos os tempos. Infelizmente, em seu último ano de vida, Elizabeth posou para apenas um retrato oficial, divulgado há alguns dias por sua fotógrafa, Basia Hamilton.

Última fotografia oficial da rainha Elizabeth II, tirada no castelo de Windsor, em 6 de maio de 2022.

Em 26 de Fevereiro de 1952 (vinte dias após sua ascensão ao trono), Elizabeth II posava pela primeira vez como soberana do Reino Unido, para as lentes da fotógrafa da sociedade, Dorothy Wilding. Cerca de 59 fotografias da nova rainha foram feitas por Wilding naquela sessão, apresentando Elizabeth em uma variedade de vestidos, desenhados pelo estilista da família real, Norman Hartnell. Parte desse material foi usado na confecção de novos selos postais e efígies para a cunhagem de moedas. Nas fotos, a monarca de 25 anos usava um vestido preto sem alças, brincos de pérolas e o Colar da África do Sul, que lhe fora dado de presente de aniversário em 1947, pelo Governo da União da África do Sul.

Primeira visão oficial de Elizabeth II como rainha, pelas lentes de Dorothy Wilding.

Sendo assim, é curioso que, setenta anos depois, outra fotógrafa capturasse oficialmente o último retrato de Elizabeth II como soberana reinante. Hamilton é uma relevante pintora e consultou a opinião da soberana sobre a produção de um retrato, destinado a comemorar seu Jubileu de Platina. A rainha, que então vivia em reclusão no castelo de Windsor desde o ano de 2020 (quando estourou a pandemia de Covid-19), concordou em posar para a artista, a despeito de sua frágil condição de saúde, que já começava a ficar cada vez mais visível no seu semblante e em seu corpo de nonagenária.

A artista Basia Hamilton trabalhando em sua tela da rainha Elizabeth II.

Embora a causa da morte da rainha, em 8 de setembro daquele ano, tenha sido declarada como “velhice”, foi descoberto que Elizabeth lidava nos últimos meses com câncer de medula ócea. O tratamento, porém, lhe deu apenas uma sobrevida, razão pela qual a soberana começou a preparar tudo para a passagem do bastão de comando para o rei Charles III (começando por formalizar seu desejo de que Camilla fosse reconhecida como rainha consorte, após sua morte). Nas muitas inaugurações e festas oferecidas por ocasião do Jubileu, Elizabeth com frequência aparecia apoiada em uma bengala, quando não era transportada por uma cadeira de rodas.

A tela da rainha Elizabeth II, pintada por Basia Hamilton em 2022, para comemorar o Jubileu de Platina da soberana.

Com efeito, luvas brancas eram utilizadas para esconder as marcas arroxeadas de suas mãos. A rainha, porém, as descartou para seu retrato. Em 6 de maio de 2022 (uma sexta-feira), a monarca posava para aquele que seria seu último retrato oficial, destinado à produção de uma obra de arte. Como fizera tantas vezes antes, a monarca adotou uma pose austera, enquanto permanecia confortavelmente sentada numa poltrona, de frente para as lentes de Basia Hamilton, no castelo de Windsor. Elizabeth usava seu colar de três fios de pérolas, um vestido salmão escolhido por Angela Kelly, responsável por seu estilo desde a década de 1990, o broche de 11 pérolas de sua trisavó, a rainha Vitória.

A obra hoje se encontra em exposição no castelo de Windsor e faz parte do acervo da Royal Collection.

Trata-se da última fotografia para a qual a rainha posou formalmente em vida, no ano em que marcava o seu Jubileu de Platina (70 anos de reinado). A artista Basia Hamilton, que teve uma entrevista com a monarca naquele dia, trabalhou durante os últimos meses para a finalização da tela, representando Elizabeth aos seus 96 anos. Curiosamente, exatamente um ano depois dessa fotografia ter sido feita, o ei Charles III era coroado na Abadia de Westminster, em 2023. Na imagem, é possível notar alguns sinais da debilidade da soberana em seu último ano de vida, como marcas roxas nas mãos. Atualmente, a tela de Hamilton se encontra em exposição no castelo de Windsor e faz parte do acervo da Royal Collection.