A incompreendida neta da rainha Elizabeth II: a princesa Beatrice e o futuro da Casa de York!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Certamente, a princesa Beatrice de York não pode ser considerada um dos membros mais populares da família real inglesa. Sua vida não foi marcada por escândalos ou por desavenças com os membros sêniores da Casa Real. Ela também está longe de ser idolatrada pelos periódicos de moda. Pelo contrário! A filha do príncipe Andrew é alvo constante de ataques da imprensa por sua forma de se vestir. Ela também já foi achincalhada por sua aparência física, por seu peso e até pelos seus lábios pequenos e olhos grandes, que apresentam uma surpreendente semelhança com os de sua penta-avó: a rainha Vitória. Contudo, Beatrice (atual senhora Mapelli Mozzi), possui uma incrível trajetória de superação. Tendo sido vítima de bullying na escola, o que contribuiu para queda de sua autoestima, a neta da rainha Elizabeth II foi engolfada pelo turbilhão de fofocas envolvendo o casamento e o divórcio de seus pais. Pouco depois, foi diagnosticada com dislexia. Mas, apesar das dificuldades, ela conseguiu concluir o Ensino Superior e transformou aquilo que muitos considerariam como uma fraqueza como seu escudo. Hoje, Beatrice é uma árdua defensora de projetos sociais que prestam assistência para crianças que enfrentam as mesmas dificuldades pelas quais ela um dia passou.

Embora nossos pensamentos sejam direcionados a imaginar na vida dos príncipes e princesas da família real como um conto de fadas, a realidade é muito distinta do que transparece a fachada imponente do Palácio de Buckingham. Podemos afirmar que a princesa Beatrice nunca enfrentou problemas que pessoas da classe trabalhadora passam diariamente. Mas, ela e sua irmã, Eugenie, cresceram em um lar bastante disfuncional. Nascida em 8 de agosto de 1988, no Portland Hospital, em Londres, Beatrice de York foi a primeira filha do príncipe Andrew, duque de York, com Sarah Fegurson. Pelo lado paterno, a jovem podia retraçar com facilidade sua linhagem até os primeiro monarcas que governaram na Grã-Bretanha. Sua avó, a rainha Elizabeth II, reinava como soberana constitucional há 36 anos. A bebê ocupava então a quinta posição na linha de sucessão ao trono, atrás de seu tio, Charles, o príncipe de Gales (atual rei Charles III), seus primos William e Harry, e seu pai. Já pelo lado materno, a criança herdou uma boa dose de sangue aristocrático. Andrew e Sarah haviam se casado numa pomposa cerimônia ocorrida da Abadia de Westminster, no dia 23 de julho de 1986. Naquela época, os ingleses viviam o auge do governo conservador de Margaret Thatcher.

A rainha-mãe, Elizabeth Bowes-Lyon e sua filha, a rainha Elizabeth II, segurando no colo a neta recém-nascida, princesa Beatrice de York, em Balmoral, no ano de 1988. A imagem foi feita especificamente para o cartão Natal da família real.

Atualmente, Beatrice desenvolve um relevante trabalho filantrópico no combate ao bullying, relatando suas próprias experiências sobre críticas à sua aparência e, em abril de 2022 ela participou da Assembleia Mundial de Dislexia, organizada pelo príncipe Carl Philip na Suécia, na qualidade de embaixadora da instituição de caridade Made By Dyslexia.

A duquesa de York, Sarah Fegurson, era um prato cheio para as críticas dos tabloides. Pejorativamente chamada de “duquesa de Pork”, em decorrência de seu sobrepeso, Sarah travou por anos uma verdadeira luta contra a balança. Diz-se que precisou recorrer ao uso de medicamentos para emagrecer 20 quilos para caber dentro do vestido de noiva, desenhado por Lindka Cierach. Era constantemente comparada em termos depreciativos com a princesa Diana, que era a deusa dos periódicos de moda. Aliado às preocupações com sua aparência, o casamento de Sarah com Andrew começou a desmoronar na medida em que ele passava cada vez mais tempo longe de casa, na Marinha, deixando sua esposa e a filha recém-nascida praticamente sozinhas. Beatrice só teve seu nome oficialmente anunciado à imprensa duas semanas decorridas do parto da duquesa. Ela foi batizada na Capela Real do Palácio de St. James, em 20 de dezembro de 1988, tendo como padrinhos o visconde Linley (filho da princesa Margaret), a duquesa de Roxburghe, entre outros. Dois anos depois, ela ganhou uma irmãzinha, Eugenie. As duas menininhas de cabelos ruivos eram uma feliz recordação para sua avó, dos tempos em que ela e sua irmã eram conhecidas apenas como princesas Elizabeth e Margaret de York, antes do pai de ambas ascender ao trono como rei George VI.

Infelizmente, a infância de Beatrice foi bastante perturbada nos anos 1990, devido à crise no casamento de seus pais. Escândalos extraconjugais envolvendo os nomes do duque e da duquesa preenchiam páginas e mais páginas de tabloides sensacionalistas, contendo fotos das duas princesinhas, enquanto a rainha Elizabeth II fazia de tudo para abafar os rumores e assim proteger a infância das netas. Imagens altamente explosivas da duquesa usando biquini, com seu controlador de finanças lhe chupando o dedão do pé, foram divulgadas nos principais tabloides do período, como o The Sun. Para piorar a situação, as câmeras dos paparazzi capturaram os rostos de Eugenie e Beatrice brincando na piscina. Em 1992, o duque e a duquesa de York finalmente se separaram. Aquele ano culminou com o fim do matrimônio de outros dois filhos da rainha: Anne, Princesa Real, que se divorciou do capitão Mike Philips, e Charles e Diana. Elizabeth usaria a expressão latina annus horribilis para classificar aqueles meses, num discurso que marcou a quadragésima década de seu reinado. A partir de então, Sarah passaria a ser tratada como um membro amputado da família real. Um sinal de seu desfavor foi o banimento da duquesa do camarote real durante a corrida de cavalos de Ascot. Ela e suas duas filhas foram vistas nas fileiras, junto aos demais convidados.

A rainha Elizabeth II (ao centro), com suas duas netas, as princesas Eugenie (à esquerda) e Beatrice de York (à direita). As duas menininhas de cabelos ruivos eram uma feliz recordação para sua avó, dos tempos em que ela e sua irmã eram conhecidas apenas como princesas Elizabeth e Margaret de York, antes do pai de ambas ascender ao trono como rei George VI.

Comparação entre a rainha Vitória (aqui retratada por Franz Xaver Winterhalter) e sua pentaneta, a princesa Beatrice de York. Beatrice interpretou uma das damas de companhia da atriz Emily Blunt, no filme “A Jovem Rainha Vitória” (2009).

Em 1996, o divórcio de Andrew e Sarah foi oficializado, após quatro anos desde a separação do casal (prazo estipulado pela legislação inglesa). Sarah manteve o título de duquesa de York, embora sem o tratamento de Alteza. O mesmo aconteceria com a princesa Diana alguns meses depois. Nesse meio-tempo, a mãe de Beatrice precisou se reinventar. Usou sua criatividade e se tornou autora de uma bem-sucedida coleção de histórias infantis, cujos direitos sobre a obra foram vendidos para a produção de brinquedos, materiais escolares e animações. Sarah também lançou sua autobiografia, romances e até se aventurou como produtora de filmes. Em 2009, seu nome apareceu nos créditos de “A Jovem Rainha Vitória”, que trazia a atriz Emily Blunt como protagonista. O mais interessante no longa-metragem foi ver a jovem Beatrice interpretando uma das damas de companhia da rainha na cena da coroação e na do baile. A partir de então, as redes sociais passaram a dar maior atenção à incrível semelhança entre a princesa e sua antepassada do século XIX. Com sua mãe, Beatrice aprendeu que o status de princesa não tinha mais o mesmo respeito da época em que a rainha Vitória reinava sobre quase 1/6 do mundo. Era preciso trabalhar para ganhar seu próprio sustento. Assim, tanto ela quanto sua irmã passaram a ajudar a mãe em sua empresa.

Com efeito, Beatrice foi educada no St George’s School, em Ascot, entre os anos de 2000 e 2007. Aos sete anos de idade, em 1995, ela foi diagnosticada com dislexia, razão pela qual em 2013 ela se tornou patrona do Helen Arkell Dyslexia Centre, que cuida de crianças portadoras do mesmo distúrbio que dificulta o aprendizado da leitura e da escrita. Apesar disso, a princesa conseguiu se graduar pela Universidade de Londres, onde obteve o diploma de Bacharel em História e em História das Ideias, no ano de 2011. Anos depois, a princesa contou em depoimento que era alvo de bullying dos seus colegas de turma, tanto por ser disléxica, quanto por sua aparência mais robusta, seus olhos grandes, nariz aquilino e lábios pequenos (características que, no passado, seriam exaltadas como referencial de sua realeza). Em decorrência disso, Beatrice passou por um regime intenso, que modificou bastante sua aparência. Em nada ajudava também as suas escolhas de roupa em eventos do Palácio. No casamento do príncipe William com Kate Middleton, por exemplo, o chapéu em formato de laçarote que ela usava foi comparado aos tentáculos de um polvo. Beatrice mais tarde afirmou que aprendeu a lidar com essas críticas, da mesma forma como sua mãe e irmã faziam.

Moda reciclada: a princesa Beatrice de York reformou um vestido de sua avó para se casar com Edoardo Mapelli Mozzi.

Infelizmente, o casamento da princesa Beatrice fora o último evento oficial da realeza no qual o príncipe Philip compareceu ao lado de sua família. Em 9 de abril de 2021, o avô paterno da princesa Beatrice faleceu aos 99 anos, em decorrência de problemas cardíacos.

Nos últimos anos, o nome da Casa de York foi mais uma vez arrastado à lama quando acusações de pedofilia envolvendo o príncipe Andrew foram feitas por Virginia Roberts Giuffre, mulher que fora abusada sexualmente pelo duque quando tinha apenas 17 anos. Ela havia sido apresentada a Andrew pelo seu então amigo, o investidor americano e notório pedófilo, o milionário Jeffrei Epstein, e sua comparsa, Ghislaine Maxwell (ambos presos por abuso e tráfico de menores). Antes dessa bomba ganhar dimensões catastróficas em 2019 com o movimento do #MeToo, o duque já andava muito ressentido com o fato de sua mãe ter retirado a escolta policial das netas, Beatrice e Eugenie. As duas jovens eram vistas entrando e saindo de boates, com os policiais lhes servindo praticamente como babás. Para evitar mais críticas envolvendo a monarquia e o desperdício de dinheiro público, as duas princesas foram privadas desse direito, que antes era garantido devido ao seu status de altezas reais. A situação para a Casa de York piorou quando a ligação entre Andrew, Virginia e Epstein se provou completamente verdadeira. Para salvar a reputação da Coroa, o duque se viu obrigado a entregar para a rainha todas as suas patentes militares, renunciar ao patronato de instituições filantrópicas e, mais humilhante ainda, perder o tratamento de Alteza Real.

Atualmente, o príncipe Andrew experimenta a mesma situação de sua ex-esposa, Sarah, com quem ele divide até hoje o mesmo teto, em termos supostamente amigáveis. O duque de York não apareceu em qualquer uma das fotografias oficiais do casamento de sua filha mais velha, ocorrido no auge da pandemia de Convid-19. Em 17 de julho de 2020, a princesa Beatrice se casou com o italiano Edoardo Mapelli Mozzi, numa cerimônia para poucos convidados na capela de Todos os Santos, no parque do castelo de Windsor. Um detalhe interessante, que não escapou aos olhares do público, foi o vestido e os adereços usados por Beatrice durante a cerimônia. Eles pertenciam à sua avó, a rainha. Desenhado em 1960 pelo estilista Norman Hartnell (responsável pelo estilo de Elizabeth II no início do seu reinando), o traje foi readaptado para Beatrice por Angela Kelly e Stewart Parvin. A soberana o usou pela primeira vez durante um vista a Roma, em 1961. No ano seguinte, para a estreia de “Lawrence da Arábia”, Elizabeth cumprimentou o elenco do filme usando o mesmo traje. Seis anos depois, durante a cerimônia oficial de abertura das sessões do Parlamento, a monarca optou novamente pelo vestido de tafetá Peau De Soie, em tons de marfim e adornado com cristais. Segundo comunicado oficial emitido pelo Palácio de Buckingham:

O casal decidiu realizar uma pequena cerimônia privada com seus pais e irmãos, após o adiamento do casamento em maio. Trabalhando de acordo com as diretrizes do governo, o serviço estava em conformidade com as circunstâncias únicas, permitindo que celebrassem o casamento com a família mais próxima.

Não obstante, todas as precauções de distanciamento social foram tomadas pela equipe responsável pela organização do evento. Mais um aspecto que não ficou sem ser notado foi a Tiara usada pela noiva. Trata-se do mesmo modelo de franjas de diamantes, usado pela própria rainha Elizabeth II no seu casamento com o príncipe Philip, em 20 de novembro de 1947. A joia foi confeccionada pela Garrards para a rainha Mary de Teck, a partir de diamantes da antiga coleção deixada pela rainha Vitória. Trata-se, portanto, de uma das peças mais importantes do Tesouro Real, sendo usada apenas por membros da mais alta hierarquia na realeza, como a princesa Anne, filha da monarca, em seu casamento como Mark Philips no ano de 1973. Para se ter uma ideia, todas as outras netas, noras e consortes dos netos da monarca usaram tiaras memores, feitas sob medida para uma princesa, nos seus respectivos matrimônios. Beatrice foi a única entre elas que usou uma joia digna de uma rainha! Isso alimentou rumores de que ela seria a neta favorita de sua avó.

Fotografia de Sarah Fegurson, duquesa de York, com suas duas filhas, as princesas Beatrice e Eugenie. A imagem foi compartilhada pela duquesa em sua conta oficial no Instagram, @sarahferguson15, e foi tirada no dia do Concerto da Coroação, em 7 de maio de 2023.

Ocupando a nona posição na linha de sucessão ao trono, não sabemos se um dia Beatrice herdará o título de duquesa em seu próprio nome, mas é certo que ela vem desempenhando um papel muito importante em nome de seu tio, o rei Charles III.

Após o seu casamento, Beatrice passou um tempo na Itália, onde não era tratada como uma alteza. Retornava a Londres apenas para eventos da família, como no funeral de seu avô, em abril de 2021. Na ocasião, ela já estava grávida. A primeira filha do casal, Sienna Elizabeth, nasceu em 18 de setembro. Durante essa nova fase de sua vida, ela continuou desenvolvendo um relevante trabalho filantrópico no combate ao bullying, relatando suas próprias experiências sobre críticas à sua aparência e, em abril de 2022, participou da Assembleia Mundial de Dislexia, organizada pelo príncipe Carl Philip na Suécia, na qualidade de embaixadora da instituição de caridade Made By Dyslexia. Em 8 de setembro, porém, sua avó faleceu aos 96 anos de idade, depois de ter reinado por sete décadas. Uma entristecida princesa foi flagrada pelas câmeras, chorando, enquanto cumpria seus deveres durante o funeral de Estado da monarca. Agora, a jovem carrega nas costas toda a responsabilidade de manter a dignidade da Casa de York, enquanto seu pai é cada vez mais afastado do seio da realeza e sua mãe enfrenta uma luta contra o câncer. Ocupando a nona posição na linha de sucessão ao trono, não sabemos se um dia Beatrice herdará o título de duquesa em seu próprio nome, mas é certo que ela vem desempenhando um papel muito importante em nome de seu tio, o rei Charles III.

Referências Bibliográficas:

BROWN, Tina. Os arquivos do Palácio: por dentro da Casa de Windsor: a verdade e a voragem. Tradução de Denise Bottmann e Berilo Vargas. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

KELLEY, Kitty. Os Windsor: radiografia da família real britânica. Tradução de Lina Marques et. al. Sintra, Portugal: Editorial Inquérito, 1997.

MARR, Andrew. A real Elizabeth: uma visão inteligente e intimista de uma monarca em pleno século 21. Tradução de Elisa Duarte Teixeira. São Paulo: Editora Europa, 2012.

MEYER-STABLEY, Bertrand. Isabel II: a família real no palácio de Buckingham. Tradução de Pedro Bernardo e Ruy Oliveira. Lisboa, Portugal: Edições 70, 2002.

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