A mais bela entre as mulheres: animação reconstrói a face de Nefertiti, rainha do Egito

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Em dezembro de 1912, a equipe do arqueólogo alemão Ludwig Borchardt fez uma das descobertas mais importantes da história do Antigo Egito: entre as peças dispostas no ateliê do escultor Tutmés, encontrava-se o busto de uma das mulheres mais belas que já reinaram sobre aquelas terras, Nefertiti, esposa do faraó Akhenaton. Possivelmente confeccionado no ano de 1345 a.C, o busto, esculpido em calcário, é considerado umas das obras primas de Tutmés e atualmente se encontra exposto no Museu Neues, em Berlim. Muitas são as características que chamam a nossa atenção ao contemplar a imagem esculpida da rainha, como a grande coroa, o pescoço longo e delgado, sustentando um cabeça com traços faciais muito agradáveis de se ver, exceto, talvez, pela ausência da íris no olho esquerdo. Acredita-se que a obra tenha ficado incompleta por vontade do artista, temeroso de que a beleza da rainha causasse inveja nas deusas. Esse é apenas um dos vários mistérios ligados à vida de Nefertiti, que ainda continua tão fascinante para nós, como certamente o foi em seu tempo de vida.

Reconstrução facial de Nefertiti, por Sven Geruschkat.

Tendo vivido por volta de 1370 a 1330 a.C., Neferneferuaten Nefertiti, rainha do Egito, possuía o título cerimonial de Grande Esposa Real do Faraó Akhenaton, governante cujo reinado foi marcado por uma revolução religiosa bastante controversa, ao instigar o culto monoteísta ao deus Aton (o disco solar). Dessa forma, o reinado de Nefertiti como primeira rainha consorte coincidiu com essa época sem precedentes da história cultural e religiosa do Egito. Entretanto, alguns detalhes sobre a vida da rainha permanecem incertos para a maioria dos pesquisadores. Não se sabe, por exemplo, qual a origem exata de Nefertiti. Algumas teorias sugerem que ela era filha de Ay, mais tarde proclamado Faraó após a morte de Tutankhamun, que era filho de Akhenaton. A ausência de inscrições que indicam a paternidade da famosa beleza egípcia, porém, é um dos maiores obstáculos a essa teoria.

Com efeito, o que se sabe sobre Nefertiti provém das informações esculpidas nas paredes dos muitos templos erguidos durante o reinado do Faraó Akhenaton. A forma como a rainha aparece nessas descrições, ao lado de retratos representando-a em posições de poder e autoridade, é quase sem igual da história do Egito, o que sugere que ela tinha um papel de destaque no governo de seu marido. Em outras inscrições. ela aparece no centro do culto ao deus Aton. É possível ainda encontrar imagens esculpidas em alto relevo da rainha como uma guerreira de elite, dirigindo sua carruagem e golpeando seus inimigos, conforme podemos observar no interior do túmulo de Meryre. Foi com base nessas representações que o especialista em reconstrução facial M.A. Ludwig desenvolveu uma versão de como seria o rosto de Nefertiti, através do photoshop.

Tomando como base para o seu trabalho o famoso busto da rainha exposto no Museu Neues, Ludwig acrescenta que:

Eu tenho visto artistas tentando trazer a rainha à vida várias vezes, e apesar de algumas das tentativas mais famosas serem muito boas, eles sempre procuram ajustar de alguma forma suas características faciais aos padrões de beleza contemporâneos, o que é desnecessário, pois o busto de Nefertiti já é muito belo e realista. Eu preferi deixar as características do busto exatamente como estão, apenas substituindo a pintura e emplasto por carne e osso. O resultado é absolutamente deslumbrante.

Quanto ao marido de Nefertiti, Akhenaten, ou Amenhotep IV, como era conhecido antes de inciar sua revolução religiosa, seu legado foi bastante controverso. Filho do Faráo Amenhotep III e da rainha Tiye, de origem nubiana, Akhenaten conquistou a antipatia de muitos dos seus súditos ao impor o culto monoteísta ao deus Aton. O que não impediu, entretanto, que um número considerável de templos e santuários fossem erguidos em reverência à deusa Hathor-Tefnut, durante seu reinado. Seus sucessores, porém, se esforçaram bastante em amenizar o efeito de suas reformas, apagando muitas das inscrições sagradas ligadas ao nome do antigo Faraó. Ludwig também reconstruiu as características faciais de Akhenaton, conforme podemos observar no vídeo abaixo:

De acordo com Ludwig:

Esta reconstrução baseou-se em grande parte nas imagens combinadas de Amenhotep III e seu crânio, na imagem da rainha Tiye e sua possível herança nubiana, e em inúmeras representações do próprio Akhenaton, em todas as proporções mais “normais”. Pode-se dizer aqui que Akhenaton definitivamente herdou mais características de sua mãe do que de seu pai.

O reinado de Akhenaton e Nefertiti marcou para sempre a história do Egito. Juntos, eles tentaram mudar a identidade religiosa de um povo e apesar das tentativas posteriores de dissipar sua memória, até hoje permanecem como um dos casais de governantes mais poderosos da antiguidade.

Fonte: Realm of History – Acesso em 21 de outubro de 2017. 

12 comentários sobre “A mais bela entre as mulheres: animação reconstrói a face de Nefertiti, rainha do Egito

  1. Gente me deu um arrepio quando ela piscou!
    Amo ler sobre o antigo Egito.Quando eu tinha uns 9anos fui em um museu em Curitiba sobre o Egito e fiquei fascinada!

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  2. Quase todo mundo acha que essas reconstruções faciais correspondem à realidade. Só que não.
    E os cientistas nunca disseram que correspondessem.
    O sequenciamento genético só pode indicar etnia, não fornece um retrato individual.
    E as modelagens baseadas nos crânios são pura licença artística, um chutômetro que acerta apenas formato da cabeça, contorno do rosto e cor da pele e cabelos baseados na etnia revelada pelo sequenciamento genético (que já comprovou a miscigenação principalmente entre norte-africanos e populações do oriente médio)
    Detalhes de tecido mole como formas de lábios, pálpebras, nariz (cartilagens) e conformação muscular facial são impossíveis de serem reconstituídos pois se perderam para sempre.
    Somente reconstruções baseadas em bustos e estátuas da antiguidade greco-romana se aproximam da realidade.
    As estátuas e afrescos egípcios representavam os monarcas não como retratos reais mas como um ideal de beleza admirado por eles, no caso a beleza afro subsaariana (que é linda mesmo)
    https://www.ancient-origins.net/human-origins-science/facial-reconstructions-0011507
    🔎Aqui um artigo científico sobre as reconstruções :
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2815945/

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